quarta-feira, 5 de agosto de 2009

São fatos, fatos reais ...

Como pude não perceber o que estava acontecendo com a minha filha Christiane?

Eu me fiz essa pergunta diversas vezes. Talvez a resposta fosse simples, mais tive que conversar com outros pais para poder aceitá-la. Não queria reconhecer de forma alguma que Christiane se transformara numa viciada em drogas. Enquanto pude, fechei os olhos para não enxergar
Meu companheiro - o homem com quem eu vivo desde o meu divórico - há muito tempo vinha suspeitando de algo errado, mais eu sempre lhe dizia "você está imaginando coisas; ela não passa de uma criança".
O erro mais grave dos pais é sempre achar que os filhos ainda não chegaram a esse ponto. Eu devia ter feito alguma coisa quando constatei que Christiane se isolava cada vez mais do convívio do lar, mais nada fiz. Simplesmente aceitava a realidade.
Não há dúvida de que quando trabalhamos fora não podemos dar a nossos filhos a atenção de que eles precisam. Muitas vezes minha filha voltava tarde pra casa, mais, como sempre apresentava uma boa justificativa, eu me limitava a acreditar; quanto à sua rebeldia, achava-a própria da idade.
Nunca quis pressionar Christiane por não desejar que ela passasse o que eu passara na adolescência. Meu pai era um homem extremamente severo, e sua maneira de educar resumia-se em determinar proibições. Falar em rapazes já era motivo para levar uma bofetada. Minha mãe, sim, era uma santa criatura, mais sua opinião não tinha peso. Meu pai nem sequer deixou eu escolher uma profissão! Meu primeiro namorado - com quem eu vim a me casar - eu mal podia ver, porque meu pai proibia. As coisas eram tão difíceis para mim, que só tive uma saída para conquistar a independência: ficar grávida e, assim, ser obrigada a casar.
Meu casamento, porém, foi um fracasso total; contudo em 1973 consegui ter coragem, que sempre me faltara, e requeri o divórcio.
Eu deseja preservar Christiane de tudo por que passara. Quando deu seu nascimento, fiz até um juramento: "minha filha não se casará com o primeiro que aparecer, só para sair de casa". Queria ser uma mãe moderna, mas - e talvez por isso - acabei me revelando uma mãe permissiva.
Uma vez divorciada, desejei que tudo mudasse. Pensei em montar um pequeno apartamento para nós três: Christiane, sua irmãzinha e eu. Meu trabalho profissional me possibilitava realizar tal sonho. Queria poder comprar-lhes pequenas, mas freqüentes, lembranças, roupas bonitas e sair com elas nos fins de semana. Tudo isso eu consegui, e em 1975, pude até comprar para Christiane um aparelho de som, que era o seu maior sonho.
Hoje sinto que tudo o que eu fiz foi uma forma de aliviar minha consciência pelo fato de não lhes ter dado a atenção, o carinho e o amor de que os filhos necessitam. Reconheço também que fui muito egoísta, pois poderia ter vivido com o auxílio-família e dado muito mais assistência a minhas filhas. Como meus pais me haviam ensinado a não ser uma parasita do Estado, entendia que as lembranças e as roupas poderiam substituir minha presença contínua.
Nunca me passou pela cabeça que Christiane fosse enveredar pelos piores caminhos, apesar de saber o que se passava no conjunto Gropius. Eu acreditava, verdadeiramente, que tudo ia bem. Pela manhã elas ficavam na escola, preparavam o almoço quando voltavam pra casa e passavam muitas tardes no poney-club, pois as duas tinham uma verdadeira paixão por animais.
Durante algum tempo tudo parecia relativamente normal, apesar de eventuais cenas de ciúmes entre as crianças e Klaus, meu companheiro. Eu queria estar disponível para ele, pois de certa forma ele constituía o meu ponto de equilíbrio. Cometi, então, outro grande erro, que só agora reconheço: para melhor me dedicar a Klaus, deixei que a irmã de Christiane fosse morar com o pai, meu ex marido.
Naturalmente, Christiane se sentiu só e, sem que eu me desse conta, começou a andar em más companhias. Passava as tarde com uma amiga, Kessi, que me parecia boa menina. Na verdade, tanto a mãe de Kessi como eu mesma, sempre que possível, ficávamos de olho nas duas. Nesse época Christiane estava com 12 ou 13 anos, idade em que os jovens querem descobrir a vida, e, por isso, eu não via mal algum que ela freqüentasse o Centro de Jovens. O que nunca sequer admiti, entretanto, é que uma organização dirigida pela igreja, protestante fosse um antro de viciados.
Christiane, que em função da ausência da irmã se tornara uma menina triste, voltou a sorrir após conhecer Kessi. Às vezes ela dizia bobagens com tanto entusiasmos, que até eu não podia deixar de rir.
Mal adivinhava, no entanto, que a sua alegria e suas gargalhadas contagiantes eram efeito da maconha ou de outra droga

(Condesação livre de parte do primeiro depoimento da mãe de Christiane F.)

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